O plantio da soja em condições climáticas adversas.

Após atraso no plantio da soja verão 2020/21, o sojicultor deve entender melhor os detalhes do clima e criar estratégias nas melhores janelas de plantio da próxima safra.

A safra de soja 2020/2021 ainda nem acabou, e já estamos debatendo como será o plantio no próximo verão. O assunto é relevante em todos os anos, mas após o atraso no plantio da última safra e, consequentemente, atraso na colheita, compreender melhor alguns detalhes relacionados ao clima e às janelas de plantio que teremos no futuro próximo é fundamental para todo produtor.

Safra 2020/21: a soja em condições climáticas adversas

Em outubro do ano passado, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) já havia notificado o mercado sobre o atraso de plantio graças ao período seco.

Na época, os produtores estavam aguardando por chuvas em volumes mais adequados para iniciar as operações na maioria das regiões produtoras do País. O objetivo era plantar com umidade de solo ideal para cultivo.

Entre muitos fatores, o principal responsável por esse advento foi o fenômeno climático natural La Niña, que reduz a temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental, causando mudanças relevantes na distribuição, e volume de chuvas e na temperatura em todo o planeta.

Ao menos no Brasil, os impactos do La Niña percebidos pelos produtores foram condições climáticas extremas, que constituíram um cenário onde algumas regiões passaram por longos períodos de estiagem, enquanto outras áreas concentraram grandes volumes de chuvas em momentos atípicos.

Apesar dos grandes riscos que produtores enfrentaram ao implementar a cultura da soja de forma inadequada em função das condições climáticas, a projeção de produção do grão é de novo recorde. De acordo com o último boletim de acompanhamento de safra da Conab, o Brasil deve produzir 135,5 milhões de toneladas de soja na safra 2020/2021, número que é 8,6% maior do que o da safra passada, e que posiciona o país como o maior produtor mundial da leguminosa.

Entretanto, vale reforçar que, mesmo com o final feliz, ao avaliar cada propriedade, é possível encontrar até mesmo problemas com a qualidade dos grãos, por causa das chuvas em excesso durante a colheita. Além disso, muitos produtores têm optado por antecipar a colheita para evitar que o plantio do milho safrinha aconteça muito tarde.

Como consequência, no Mato Grosso, Norte e Nordeste do país, por exemplo, a quantidade concentrada de soja saindo do campo com a umidade elevada tem gerado filas de caminhões nos pontos de recebimento, e a padronização dos lotes tem demandando mais tempo do que o normal.

Todo esse contexto gera dúvidas e ainda mais incertezas para quem vai plantar soja novamente no fim deste ano. Qual será a melhor janela de plantio? Será que as janelas mudarão para sempre? Como posso me preparar para plantar mesmo durante a estiagem?

Para responder a algumas dessas perguntas, o time INTACTA RR2 PRO conversou com Eduardo Delgado Assad, Pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Informática.

Impactos do clima na cultura da soja

De acordo com Eduardo Assad, devemos compreender que, ao longo dos anos, o clima tem passado por mudanças, e os efeitos dessa transformação são observados de formas diferentes, dependendo da região do Brasil. “O que vemos hoje não é a redução do volume de chuvas, e sim a concentração. Os mesmos 1.500 milímetros esperados para o ano em uma determinada região ainda chegam ao solo, mas de forma menos distribuída”, explica o pesquisador.

“É como se abrissem a torneira e a chuva caísse toda de uma vez, deixando faltar lá na frente”, Eduardo Assad – Embrapa.


Um bom exemplo dessa concentração é o deslocamento de um mês no início das chuvas no Mato Grosso. “Faltou recurso hídrico para o produtor que plantou na janela de outubro. O impacto dessa estiagem cozinhou a soja que estava no solo”, lembra Assad.

Uma planta de soja necessita de 450 a 800 mm de água durante todo o seu ciclo.


Na Região Sul, por outro lado, o efeito foi contrário. “Com chuvas intensas e veranico no meio do enchimento de grãos, as sementes que não foram perdidas por asfixia com as chuvas em excesso germinaram. Porém, as plantas sofreram com o estresse hídrico em um momento em que a água é essencial”, ressalta o pesquisador.

Adaptações nas janelas de plantio da soja

O produtor de soja brasileiro deve ficar atento, porque mudanças nos planos de plantio em cima da hora serão comuns. “Não podemos afirmar, por exemplo, que, no ano que vem, o cenário será o mesmo, mas agora devemos reforçar a importância dos dados climáticos”, aponta Assad.

O especialista explica que, neste cenário, o produtor precisa acompanhar com mais atenção as informações sobre as chuvas e fenômenos climáticos. “Para planejar o plantio, é importante considerar se é um ano de El Niño ou La Niña. Quando temos El Niño, o ano tende a ser bom para a produção de soja. Com La Niña, como tivemos no plantio da soja, pode ser ruim”.

Além disso, o pesquisador afirma que dados sobre o clima são insumos que podem beneficiar toda a estratégia de negócio do produtor. “O sojicultor pode se planejar para plantar em outubro com base no histórico da sua lavoura, mas deve montar um plano B e C. Em algumas situações, ele pode plantar no fim de novembro ou início de dezembro, com a finalidade de evitar prejuízos”.

Como reduzir os impactos do clima na produção de soja

Segundo Eduardo Assad, o manejo adequado do solo é a principal alternativa para obter bons resultados com a sojicultura, mesmo em períodos de estiagem.

O foco é proteger o solo, reter mais água e aprofundar as raízes da soja. “Com isso, aumentamos a exploração de água no solo, e a planta consegue suportar até dez dias em estresse hídrico, sem sofrer perdas”, recomenda.

“Quem faz um bom manejo do solo está reduzindo suas perdas. Quem não faz pode perder até 60% da produtividade da lavoura”, Eduardo Assad – Embrapa.


Confira as dicas de Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa, para passar por crises hídricas em melhores condições:

  • Calagem, gessagem e adubação em profundidade
    Vai facilitar o crescimento das raízes da planta.

  • Plantio direto
    Realizar o plantio com muita palha conserva e fornece matéria orgânica para o solo, além de aumentar a retenção de água.

  • Plantio de cultura de cobertura
    A rotação com culturas de cobertura pode ser pensada no longo prazo, com o objetivo de gerar mais palhada para o solo, ou até mesmo realizar a descompactação da área.
    Cabe destacar que essas Boas Práticas Agronômicas podem ser realizadas agora, na entressafra, até mesmo por produtores que irão plantar milho safrinha.
    O importante é que esse trabalho seja feito antes do plantio da soja verão, para que a próxima safra seja mais segura. Além disso, a realização do manejo do solo gera ainda mais benefícios no desenvolvimento da lavoura, quando as condições climáticas se mantem dentro do padrão.
    Por último e não menos importante, Assad reforça o papel do Brasileiro na mitigação do desmatamento ilegal. “O mundo inteiro está rastreando o que está sendo feito. Desmatar onde não pode criará barreiras de exportação e tornará as condições climáticas mais desafiadoras para a agricultura. Vamos fazer direito, integrando lavoura, pecuária e floresta, para mostrar que é possível ser sustentável e rentável, além de garantir sua oferta de água”, encerra o especialista.